19 maio 2010

daquela vez que fomos a LA saborear um Thanksgiving com amigos

Mais uma do baú do outlook (que já desapareceu outra vez, por sinal, e me deixou apenas migalhas como esta):


Thanksgiving, 2001

SF - LA


A parte má: 6 horas de carro ó pra lá, 9 horas de carro ó pra cá, 200 milhas de engarrafamento quase contínuo no regresso, com direito a mistério: ao fim de 5 horas parámos 15 minutos para encher um depósito e despejar os outros, quando voltámos à estrada já não havia engarrafamento. A única explicação que tenho é que de algum modo souberam que era eu quem estava agora ao volante, deve ter sido um salve-se quem puder toda a gente a fugir da estrada.

A parte boa: adivinhem! Os amigos com quem nos encontrámos.

Resolvida a questão maniqueísta, vamos então por partes:

Não falo dos festins, que há aqui muita gente de dieta.
Mas sempre vou adiantando que todas as noites foram de festa, sempre com boas conversas e bons risos, às vezes com direito a bela sessão de massagens e escola de samba - as surpresas que LA by night nos reserva!
Também posso dizer que as nossas noites foram bem melhores que os meus dias, e que dias...

Três dias de divertimento pré-fabricado: Santa Monica Pier (só faltavam os cartazes "sorria, estamos a fazer o que podemos para o divertir"), Universal Studios (ekchon, ekchon, ekchon!), Disneyland (the merriest place on earth) (ainda hei-de ver o que é que isto significa nos dicionários. Não consegui entender, nem sequer tentando tirar pelo sentido.)

O que uma mãe não faz pelos filhos!

No Santa Monica Pier havia um músico a cantar reggae, foi a parte mais agradável da tarde: ouvir aquela música em frente ao mar, perto do pôr do sol. Também houve um momento divertido quando o Matthias tentou acertar com bolas de ténis nos bonecos de uma barraca e as bolas pareciam enfeitiçadas, voavam em todas as direcções menos na dos bonecos, juntou-se um grupinho de gente a rir da falta de jeito, se eu fosse esperta tinha levado um chapéu para a Christina passar no fim do show.

Dos Universal Studios é melhor nem falar, raramente vi tanta action tão despropositada. Assistimos a uma sessão dos Blues Brothers, é sempre engraçado ouvir aquela música. Só que eles faziam questão que os meus filhos se levantassem e dançassem e abanassem os braços acima da cabeça, o que eles se recusavam a fazer. De modo que os Blues Brothers lá do palco faziam caretas para nós, e nós fazíamos caretas para eles, eu mais ainda que o Matthias, vão lá chatear o tio deles com a mania de arrebanhar a audiência em dinâmicas instantâneas de massas. Depois demos a voltinha dos pavilhões e essa sim, foi interessante para mim, embora os miúdos tenham tido algum medo por causa dos efeitos especiais. O que uns filhos não fazem pelas mães.

A maior desilusão foi a Disneyland, eu juro que pensava encontrar aquele palácio lindo da publicidade nos livros do tio Patinhas, e sai-me uma casinha de tamanho barn. Vão passear, seus engana crianças.

Caí na asneira de levar os miúdos aos bobsleds do Matterhorn, ainda o carro não tinha começado a ser içado já eu estava arrependida. Ao primeiro sacão agarrei-os bem, comecei a repetir "não nos vai acontecer nada, não se preocupem", fechei os olhos e continuei a repetir "não nos vai acontecer nada!" - só não comecei a rezar porque já sei que não resulta, mas pouco faltou. Quando saímos, a Christina contou toda calma que tinha visto bichos muito engraçados, uns verdes e outros azuis.

A meio do dia começou a chover torrencialmente. Em desespero de causa fomos para o Tiki room. À entrada eu perguntei o que era e o funcionário respondeu "flores e pássaros cantores" e eu, parva, "verdadeiros?", e a Christina sussurrando embaraçada "que pergunta, mãe!" e o funcionário "estão à sua frente".

À minha frente havia bonecada, pássaros e flores pendurados, atrás de mim a chuva torrencial, venha o diabo e escolha, entrámos. Daí a nada estava a olhar boquiaberta para manganões com idade para serem meu pais, todos eles balançando nas cadeiras e cantando uma canção supostamente oriunda das ilhas dos mares do sul, em coro com a bonecada, os tais pássaros e as flores. Muito divertido, quase chorei de desconsolo.

Saímos do Tiki room e tentámos chegar à ilha dos piratas, mas estava tudo fechado por causa da chuva que entretanto tinha transformado as ruas em rios. Em alguns pontos a água tinha quase meio metro de profundidade. Ainda passei alguns sítios com os filhos ao dependuro para não molharem os sapatos, mas não adiantou. Em pouco tempo estavam encharcados até à barriga. Nas esplanadas dos restaurantes os empregados tentavam varrer a água, foi a primeira vez que vi o Sísifo de capa da chuva. Dos altifalantes saía música muito merry, as pessoas atravessavam as ruas inundadas com um ar infeliz e desorientado, se a Disney quisesse rir de si própria não poderia ter feito melhor. Desistimos, fui pedir um reembolso dos bilhetes porque não há direito de fazerem ruas sem fazerem escoadouros de água, nem precisei de argumentar, eles estavam a dar bilhetes novos sem discutir. Hehehe, é bem verdade que quem não chora não mama.

Entretanto a chuva abrandou, dos altifalantes saía "you've got a friend in me" e nós começámos a cantar, dançando como patos, pés nos charcos, platsch platsch dentro dos sapatos. Voltamos para LA sem sapatos nem calças, só foi chato quando tive de meter gasolina, improvisei como pude uma saia com o meu casaco, mas não fui presa por ofensa à ordem pública.

Resumindo e concluindo: LA está para mim como Sodoma para o profeta, o que a salva é a meia dúzia de justos que lá vive e por esses até era capaz de me mudar para lá!

7 comentários:

Rita Maria disse...

Eu, que sou muito pirosa, adorei cada minuto da Eurodisney...(mas sendo também um bocadinho esperta, adorei cada momento do teu texto)

Helena Araújo disse...

Rita: cravo e ferradura.
:-)
Talvez a eurodisney seja bastante diferente da disney de Los Angeles. Aquilo parecia tudo muito da fancaria.

Aliás, muito da fancaria é uma característica intrínseca aos EUA. Até em San Francisco: as fachadas das casas parecem inspiradas nos estúdios de Hollywood: por trás, encontras uns caixotezinhos de madeira. E barras de ferro a segurar o excesso de fachada por cima do telhado.

Rita Maria disse...

Eu do que gostei foi da fancaria (que saudades desta palavra! é tao boa!), do kitsch. Nesse dia, fiquei até a pensar onde ia descobrir um namorado que passasse o teste da minha esnobeira intelectual e depois gostasse de ir à Eurodisney passar a lua de mel.

Helena Araújo disse...

Ó Rita, diz-me cá só entre nós duas: tu não queres casar, pois não?
;-)

É que, comparado com as tuas exigências, um príncipe num cavalo branco passa a ser a coisinha mais fácil do mundo...

Rita Maria disse...

Na verdade, nunca quis muito, gostava de três ideias (da capela de S.Sebastiao, de me vestir de noiva de Viana e de casar com a bençao do meu tio - e pela mao dele, da família, e quem diz a família diz o amor e há quem quando diz o amor diz Deus) (ok, quatro, servir pataniscas), mas desde que o meu tio morreu a coisa o encanto essencial.

De qualquer forma, é uma lista de um item: com alguma coisa na cabeça, o suficiente para isso ainda nao lhe ter subido à cabeça.

Disto há aos molhos, tenho a certeza.

Helena Araújo disse...

Há, claro que há.
Não esmoreças.

;-)

Carla R. disse...

Insere imediatamente um tag nesta mensagem. Aos poucos, isto organiza-se. Ri-me tanto ! Até fiquei com vontade de ir outra vez à Eurodisney. Vou deixar passar esta fase do Halloween, depois faço um post sobre a neve e como parti um pé na Disney ou coisa que o valha. Logo te aviso.
Opa, organiza la o teu bau, please !