01 março 2012

salvar a rádio

Mais um texto para assinar, cujo link me chegou esta manhã. Está tão bem formulado, que até pedi ao Speedy Gonzalez para dar aqui uma mãozinha e traduzir (o melhor que puder, e desculpem qualquer coisinha) este belo naco de prosa da cidadania.


Iniciativa para a Cultura na Rádio


Carta Aberta 


Cara Senhora Intendente,

as informações que nos chegam das redacções da WDR 3, e também da imprensa, sobre novos cortes no programa não nos provocam a menor preocupação, porque temos a certeza de que não autorizará projectos tão mal pensados, e acabará com eles de uma penada: o corte de 32 minutos de noticiário político em "Journal", o desaparecimento de um espaço semanal para música e literatura, a transformação do actual magazine cultural "Resonanzen", transmitido todos os dias úteis, num programa de repetições, e o fim do programa dos domingos "Resonanzen weltweit" dedicado ao estrangeiro - para referir apenas algumas das "bagatelas" anunciadas por esta reforma. 

Esperamos que, na qualidade de Intendente, se sinta obrigada a respeitar a missão do serviço público, e não perca de vista a proporcionalidade dos meios: o que se pouparia na rádio WDR 3 não passa de uma gota no oceano dos custos de transmissão televisiva de jogos de futebol profissional, ou do custo dos processos de autodescoberta de caríssimos moderadores nos programas da tarde, financiados pelas taxas da rádio e da televisão - para dar apenas dois exemplos.

Já as modificações realizadas nos últimos dez anos na WDR-Rádio Cultura representam uma grande fragilização: o feuilleton político do "Diário Crítico", os saraus literários, as recensões, as gravações originais em "Documentos e Debates", programas de debate como "questões do tempo, questões polémicas" ou "conversas no posto emissor", bem como features e leitura de textos literários - tudo isso foi cortado, encurtado, desmontado ou passado para outra plataforma.

As consequências desta política são catastróficas. Um programa cultural empobrece, e nem sequer é verdade que a opção de reduzir os programas específicos de qualidade para aumentar a música de fundo permite ganhar mais ouvintes. Pelo contrário: o número de ouvintes baixou. Por esse motivo, também a Senhora Intendente terá de concluir que a transformação paulatina de um programa cultural exigente em tranches de consumo fácil  ("culture to go") é mais do que apenas um processo nocivo: é um fracasso. E a continuação de uma ideia errada não resolve os problemas que criou. Estamos, portanto, convencidos, que os novos planos para desfazer o WDR 3 já foram há muito atirados para o seu caixote do lixo. Só falta que o afirme publicamente. E imediatamente. Sublinhando também, por exemplo, os seguintes cinco pontos como critérios básicos da sua política de programação:

1. A Rádio Cultura deve estar virada para o ouvinte; não lhe deve ser demasiado banal nem o deve contentar, mas despertar o seu interesse, mostrar conexões e oferecer perspectivas invulgares. A Rádio Cultura dá vida a um conceito abrangente de cultura.

2.  Para isso, a Rádio Cultura tem de levar muito a sério o objecto das suas notícias e reflexões, e confrontar-se com a complexidade dos temas. O que exige não apenas autores e redactores competentes, mas também a defesa dos espaços de emissão adequados.

3. A Rádio Cultura tem de dar impulsos. Transmite cultura, produz cultura e faz parte da cultura. Conflitos, controvérsias e temas explosivos são-lhe intrínsecos. Não pode oferecer apenas serviços, porque a arte, a literatura, o teatro, a música e a ciência são mais do que meros bens de consumo. A análise e a crítica acompanham e promovem o desenvolvimento cultural.

4. A Rádio Cultura oferece orientação sobre problemas do presente e do futuro, apresenta possibilidades de acção. É um médium contemporâneo. A limitação da política aos noticiários de hora a hora é insuficiente.  

5. A Rádio Cultura abre perspectivas especiais sobre a política, o que exige espaços de emissão tanto locais como globais para noticiários, comentários e análises. Por esse motivo, a rádio pública tem uma rede de correspondentes, e não deixa a formação da consciência política apenas nas mãos das empresas de comunicação nacionais e internacionais.

Para a WDR 3, isso significa que:

- os programas sobre política se mantêm e são alargados;
- as análises, as críticas e os noticiários culturais são reforçados - por meio do apoio à competência em cada área e da criação de novos espaços de emissão (em vez de novos cortes);
- se mantém e desenvolve o magazine cultural "Resonanzen", concebido como feuilleton, com o seu olhar sobre o mundo a partir da perspectiva cultural e política (em vez de o transformar num programa de repetições);
- os programas de música e literatura não serão reduzidos.  

A WDR 3 devia marcar pontos com a sua especificidade, apostar de novo em documentações e produções culturais nos períodos de emissão mais vantajosos - e fazer gala disso.

Com medidas como estas poderia responder às críticas infelizmente merecidas que apontam para os crescentes empobrecimento, superficialidade e até imbecilização dos programas da rádio pública. A prova do contrário está nas suas mãos.

Colónia, Fevereiro 2912

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