09 fevereiro 2013

Berlinale 2013 - Rock the Casbah



Ao fim de cinco minutos, já eu me perguntava: "como é que arranjaste - logo tu, que andas há séculos a evitar o Soldado Ryan! - como é que arranjaste de te vir meter no horror de Gaza?!"

Rock the Casbah é aquilo que tinha de ser: um retrato cru das situações absurdas criadas por aquela guerra. Com um ou outro toque de humor (parece que os não israelitas não se dão conta de praticamente nenhuma das piadas), com um ou outro rasgo de humanidade. Um filme atravessado pela violência e pelo ódio, que termina como começou: num beco sem saída.

No fim, o palco encheu-se: realizador, produtor, vários actores. Gente bem-disposta, bastante à vontade. O realizador quis contar um momento das filmagens: quando, no fim de uma cena particularmente violenta, em que miúdos palestinianos atiravam pedras aos soldados, ele gritou "corta!", os miúdos palestinianos vieram pedir desculpa aos actores israelitas.
À pergunta sobre as suas motivações para fazer este filme, respondeu: "Venho de uma família muito da esquerda. Depois de ter feito os meus dois anos de serviço militar, quando voltei a casa a minha mãe referia-se a mim como "vocês, os animais". Quis mostrar-lhe como era a nossa vida, com que tipo de situações nos víamos confrontados." No fim, pensei perguntar-lhe se a mãe dele tinha ficado satisfeita, mas preferi ficar calada.
Ele próprio está muito satisfeito, porque o filme tem dado muito que falar, e tanto os palestinianos como os israelitas sentem que não representa condignamente as suas razões.
A actriz palestiniana acrescentou: era importante fazer este filme para mostrar que na guerra em curso ninguém vence.
Alguém do público comentou: "é uma pena que vocês ("you") não estejam no governo israelita" e o actor que tinha naquele momento o microfone retorquiu: "quem, eu?" - e pôs-se logo com pose de estadista. Todos riram.
Em resposta à sugestão do apresentador, se não queria passar o filme em Gaza, o realizador até ficou gago. "Em Gaza?!", como quem diz "você está maluco?!" Acrescenta que gostaria muito, mas que é impossível, por todos os motivos, e mais este: no filme, os soldados israelitas adoptam um cão, a quem põem o nome "Arafat" - em Gaza, isso seria motivo para serem linchados.

Saímos da sala misturados com eles. Para o Matthias, era a primeira vez que saía de uma sala de cinema ao lado dos actores do filme que tinha acabado de ver. Estava um bocadinho impressionado. Deixou-se convencer a ir pedir autógrafos, mas escolheu apenas o seu actor preferido, um dos actores secundários. O actor ficou surpreendido, e foi - obviamente - muito simpático.

Depois viemos para casa - já passava da uma da manhã.

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