04 fevereiro 2013

pode alguém ser quem não é?



O Filipe Nunes Vicente passou este vídeo no Declínio e Queda, com as perguntas:
O que achas? Perdoar ou não?

Este vídeo incomoda-me, porque me parece artificial: "pode alguém ser quem não é?"
Resumidamente: o assassino entra na igreja para deixar uma coroa de flores junto aos caixões daqueles que matou (hipocrisia, ou arrependimento?) e a miúda que assistiu ao brutal assassínio dos pais resolve perdoar e oferecer um abraço ao assassino porque "talvez tenha levado muita pancada em criança" e "Deus não quer que matemos, porque todos somos seus filhos".
Que ela não o mate, ou aos seus filhos, ainda entendo. Mas de onde vêm este perdão e este abraço?
O perdão é a resposta a um profundo arrependimento, ou um acto unilateral?


Qual é a ideia de fazer um filme destes? Parece-me que transforma o "ama o teu próximo como a ti próprio" num "ama o teu próximo e desama-te a ti próprio" - o catolicismo como apelo à abnegação, à negação de si próprio; o bom cristão como alguém que sublima a "fome e sede de Justiça", transformando-as neste perdão automático para todas as pessoas e todos os crimes.
Isto é um caminho de salvação, ou uma alienação?

***

Voltando ao terreno da realidade: será que este assassino se vai deixar converter pelo gesto da órfã, ou vai agarrar nela e metê-la no bordel da esquina?
Como responder a este convite ao amor infinito dos filhos de Deus com gestos de obreiros da Paz, e não de lorpas conformados?

2 comentários:

Gi disse...

O perdão tem limites, acho eu. Mas talvez a miúda tenha, afinal, apanhado muita pancada. É possível? Ainda não consegui ver o vídeo, só li o teu resumo.

Helena Araújo disse...

A miúda não apanhou pancada nenhuma (pelo menos até ao momento em que aqueles homens entraram na casa da sua família e lhe mataram os pais).
Ela está a pensar nos motivos do assassino para ter chegado àquele ponto.
O teu comentário, contudo, lembrou-me o problema dos meninos soldados, que se tornam soldados depois de os obrigarem a matar os próprios pais, ou algo igualmente terrível.
Mas este filme incomoda-me porque é demasiado superficial e artificial.