18 abril 2013

algumas reacções à proposta do Soros sobre a Alemanha aceitar eurobonds ou então sair do euro

Recentemente falou-se muito em Portugal sobre a proposta do George Soros para salvar o euro: ou a Alemanha aceita eurobonds, ou então sai do euro.
Na Alemanha não se falou tanto como em Portugal, mas houve mesmo assim algumas reacções. Das que vi, passo aqui uma síntese. Dou-me ao trabalho de traduzir isto para mostrar um reverso da medalha (nomeadamente a desconfiança em relação a aceitar juros iguais para todos sem poder controlar a taxa de endividamento de cada país, e o temor de que a Alemanha se meta numa aventura que os seus contribuintes não poderão pagar), e para dar visibilidade ao tipo de pressões - perfeitamente legítimas, diga-se de passagem - a que a Angela Merkel está sujeita.
Claro que se pode contradizer e criticar esta postura - eu deixo-a aqui apenas a título informativo.

Acrescento ainda que, por absoluta falta de tempo, não vou poder acompanhar a discussão nos comentários.


1. Os comentários dos leitores nos artigos de jornais online:
"Olha, olha, a raposa a dizer como é que se deve guardar o galinheiro. O Soros propõe aquilo que lhe permite ganhar mais dinheiro."
"Eurobonds, com regras muito bem definidas e que os Estados respeitarão? Really? Como as de Maastricht?..."
"Aha, com que então chegámos a esta situação por culpa da Alemanha, e só a Alemanha pode resolver o problema. Mas que prático para todos os outros países, que assim não têm de fazer nada."


2. Um comentador da revista Focus, Jörg Rohman, explicou porque é contra os eurobonds(o que se segue está entre a síntese e a tradução)
Eurobonds não são a solução. Pelo contrário, aumentariam as tensões na união monetária. Se as dívidas se tornam comunitárias, cria-se uma taxa única na zona euro. Para os Estados em crise a dívida fica mais barata, para a Alemanha fica muito mais cara. No espaço de uma década, para este país, podia representar custos acrescidos num valor a tender para o bilião de euros. Um valor que o contribuinte alemão terá de pagar.
Soros tem razão quando afirma que as economias dos países do Sul  voltariam a crescer - no entanto, só por pouco tempo. Soros está a esquecer um outro desenvolvimento: sem a pressão dos juros e da necessidade de fazer reformas com origem nos mercados, os Estados podem continuar a endividar-se como entenderem. E acreditar em declarações informais de intenções de reforma por parte dos países em crise é uma ingenuidade. Pelo contrário: assistiríamos à repetição do mesmo jogo que vimos no início da união monetária: ao estabelecer uma taxa de juro semelhante para todos os países, deu-se origem a desenvolvimentos errados e ao aumento desenfreado da dívida. O aparente desafogo económico desencadeado pelos eurobonds acabaria por revelar-se insustentável - e a factura a pagar seria ainda maior.
A nova onda de dívidas seria provavelmente diluída de forma "socialmente aceitável" por meio da inflação. Nos países do Sul, onde as poupanças privadas estão aplicadas em bens imóveis, isso representaria até um ganho. Na Alemanha, onde só 42% da população tem habitação própria e 2/3 das poupanças privadas estão em depósitos bancários, a inflação representaria uma perda importante para a maioria da população. Um cenário destes é contra os interesses da Alemanha.
Por outro lado, Soros esquece-se que o BCE já deu início a um tratamento comunitário das dívidas. Desde a iniciativa de Draghi, no verão de 2012, os custos de refinanciamento da Espanha e da Itália baixaram muito.

Quanto à saída da Alemanha do euro: que investidor continuaria a confiar no euro, com a Grécia dentro e a Alemanha fora?  (bom, não foi assim que ele disse, mas a ideia era mais ou menos essa - e se acham que isto é racismo e sei lá o quê, digam lá se estavam dispostos a comprar títulos da dívida grega com a mesma taxa dos da dívida alemã...)

Na realidade, a maior parte dos Estados com problemas entraram para o euro sem terem uma economia competitiva, e ainda não conseguiram alterar essa situação. Por isso, ou fazem reformas estruturais, ou saem da união monetária e tentam tornar-se competitivos por recurso à desvalorização monetária.
Os eurobonds seriam para eles um caminho errado, e a longo prazo iriam desestabilizar ainda mais a união monetária.


3. Em entrevista ao Spiegel, o economista Holger Schmieding também critica Soros: (o que se segue está entre a síntese e a tradução)
Resumidamente:
- Porquê mudar agora? A abordagem  actual está a resultar, a crise do euro diminuiu significativamente nos últimos meses.
- O perigo de contaminação está muito mais baixo. Isso é o mais importante. Num ponto, Soros tem razão: se o parlamento alemão aceitasse os eurobonds, os problemas de financiamento dos países em crise desapareciam imediatamente. Mas tal decisão teria efeitos de incentivo fatais. Outros países poderiam pedir emprestado com uma garantia do contribuinte alemão, sem grande controle por parte deste. Isso só pode acabar mal, e o parlamento alemão não pode aprovar tal coisa.
- Se os eurobonds tivessem regras muito estritas, como Soros sugere, não ficariam muito diferentes dos actuais programas para salvar o euro. Os países do Norte da Europa não aceitariam eurobonds sem esse apertadíssimo controle. Os próprios mercados desconfiariam de eurobonds sem controle, o que só por si poderia provocar nova crise.
- Os países em crise têm de estar mais atentos às reformas na área do trabalho e dos mercados financeiros, em vez de insistir tanto no aumento imediato e drástico dos impostos. No caso da Grécia, por exemplo, foi demasiado duro.
- A situação vai melhorar nos próximos meses. As exportações desses países estão a aumentar; o mercado interno ainda está muito condicionado pelas medidas de austeridade, mas já se começa a ver a luz ao fundo do túnel.

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