21 junho 2015

"opera prima" - hoje, às 4 da tarde (3 em Portugal), transmissão em directo e gratuita no Digital Concert Hall

A estreia, ontem, correu bem. Tentei lembrar-me de tudo: de usar "toda a língua alemã", como diz o Simon Halsey (ou seja: bater bem as consoantes), de meter uma folha de papel entre as palavras para se perceber cada uma delas sem o texto parecer uma sopa informe, de fazer os pianos e os fortes, de estar atenta à expressão do rosto e das mãos ("isto é tudo teatro", dizia a encenadora - tenho de me lembrar mais disso, porque às vezes esqueço-me, e os olhos enchem-se-me de água quando os jovens atenienses partem no barco), dos momentos em que é para cantar como se fosse um lamento interior e dos momentos em que há uma explosão de dor, do "you are not alone" (como cantarolou o Simon Rattle, para nos lembrar que o coro dos cretenses, sendo um trabalho de 100 solistas, tem de ser um trabalho em uníssono), da palavra luz iluminada (como o Tobias, o maestro que nos preparou, pediu desde o primeiro ensaio), do 1-2-3-4-"T", o 1-2-3-4-5-6-"G", dos cantabile, dos crescendo, do "nun" cantado como "lun" para não se ouvir apenas o "u". De levantar o braço ameaçadoramente logo em "já", e não em "labirinto", embora a entoação seja "já para o LABIRINTO".

Ao meu lado, um cantor fazia os gestos errados, e eu dava-lhe cotoveladas discretas. Enganei-me uma vez no coro dos cretenses, ai que vergonha, e nessa parte senti algum embaraço por estar misturada com o público a gritar coisas horrorosas em alemão, no meu alemão que não é perfeito, e as pessoas ao meu lado perceberem isso  (como quando ralhava com os meus filhos em alemão, e eles me corrigiam a pronúncia e a gramática).

No fim, o público aplaudiu longamente. Aliás: como trouxeram para o palco tantas pessoas com um nível cultural bastante diferente do habitual na Filarmonia, o público era bem diferente do habitual. Nem tossiam nem nada. O projecto Education Programm tem um efeito multiplicador que vai bem além das duzentas ou trezentas pessoas que nele participam.

No palco, nós sorríamos e aplaudíamos os nossos companheiros de aventura. Eu até me esquecia de parar de aplaudir quando me curvava com o coro dos adultos para agradecer o aplauso que nos era dirigido. Por trás de mim, o filho do Simon Rattle, um rapazinho amoroso que toca contrabaixo nesta orquestra que mistura crianças da escola primária e jovens com músicos da Filarmonia, escancarava os olhos de surpresa perante aquela explosão de aplausos.  

Saímos para a rua com o olhar feliz e realizado de quem conseguiu chegar muito perto da Beleza.

Hoje passa em directo, e gratuitamente, no Digital Concert Hall. Às três da tarde em Portugal.

Depois é apresentado por outros aventureiros em Londres, em inglês, e a seguir no festival internacional de Aix-en-Provence, em francês. A nossa aventura acaba aqui, hoje, e já sinto uma saudade enorme.

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