04 julho 2016

"Xanadu"

A palavra de ontem na nossa Enciclopédia era "Xanadu". Uma colega enciclopedista contou que em 1797 Samuel Taylor Coleridge escreveu "Kubla Khan" após a leitura da descrição de XANADU (palácio de verão do imperador da China Kublai Kan). De acordo com a sua descrição, estando sob influência do ópio, acordou com um imenso poema na cabeça e começou a escrevê-lo, mas foi interrompido porque alguém de Porlock bateu à porta. Incapaz de se recordar dos 200 ou 300 versos iniciais, apenas restou um fragmento, publicado em 1816.

Essa história sobre um poeta que escreve um poema a partir de um belo sonho e uma boa dose de sabe-se lá o quê vinha num livro que havia lá em casa: O Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico. Li-o na adolescência, e - vai ser o nosso segredinho, OK? - sabia todas as histórias de cor. Ao fantástico do livro acrescentava o meu - que aqueles verões na casa da minha avó eram longos como o caraças -, de modo que registei aquele "alguém de Porlock" como se fosse um vendedor ambulante de enciclopédias ou aspiradores. "Alguém de Porlock" tornou-se "alguém da Vorwerk".

Às vezes penso que devia ter estudado História em vez de Economia, mas depois, em momentos como este, dou-me conta de que se calhar foi melhor assim. Foi menos mau assim, digamos. Nem quero pensar como seria um livro da História escrito com este meu jeitinho para imaginar histórias mirabolantes. Havia de ser tão tão mau que acabava por se tornar famoso. Como aquele actor que também constava do Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico, o Robert "Romeo" Coates, tão incrivelmente mau que vinha gente de muito longe para o ver e esgotava sempre a sala. Um dia a minha mãe emprestou o livro a um colega, e nunca mais os vimos: nem o livro, nem o colega. Talvez tenha sido melhor assim - se o lesse agora, provavelmente ia morrer de vergonha do lixo com que andei a encher a minha adolescência. E logo na altura em que uma prima minha, pouco mais velha que eu, andava a ler o Livro Verde e o Livro Vermelho e sei lá mais que livros de que cores, para decidir se ia ser ser maoista, ou trotskista ou outra ista qualquer. Naquele tempo eu era apenas navegação-à-vista.

("Naquele tempo", diz ela...)


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