14 novembro 2016

em Paris, há um ano

Escrito a quente, no facebook, na madrugada de 14.11.2015:

Fomos à exposição do Picasso no Grand Palais e depois resolvemos ir jantar. A Carla escolheu a zona da Porte de St. Denis. No fim do jantar, o responsável do restaurante perguntou-nos onde é que moramos. Fizemos cara de estranheza, e ele explicou que Paris estava em estado de sítio, o exército estava na rua, as ruas estavam bloqueadas, e dificilmente poderíamos ir para casa. "Está a brincar connosco, não está?!" Não. Iam fechar as portas do restaurante, e nós podíamos ficar lá a noite toda.

Olhei para o telemóvel - o Joachim já tinha ligado duas vezes. Telefonei-lhe, e ele disse que o pior era ficar num restaurante, porque "eles andam a atacar restaurantes!" A Carla já estava a falar com uma amiga que mora perto do restaurante, e resolvemos ir para casa dela.

As ruas estavam estranhas: metade das pessoas a andar rapidamente e com cara de caso, muitas paradas no passeio, a telefonar com ar preocupado, e outras sentadas calmamente nas esplanadas e nos cafés - provavelmente não sabiam de nada. Nós andávamos depressa, com medo de cada mota e cada carro que passava.

Estamos em segurança, num quarto andar, e deram-nos uma tisana para acalmar. Sentada junto à janela, sentia-me demasiado exposta. Agora estou sentada no chão. Apagámos a luz da sala. Os terroristas atacaram muitos dos locais que a Carla gosta de frequentar. A amiga dela morava, até há pouco, numa das ruas atacadas.

Não nos aconteceu nada. Podia ter acontecido. E essa certeza faz-me sentir com mais crueza a tragédia que aconteceu aos outros. Estou a ouvir as notícias, mas só consigo pensar nas vítimas, e no sofrimento das suas famílias.


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