12 abril 2017

unidade de produção familiar


Ontem, ao jantar com amigos, reparei que por trás de mim havia dois quadros com partituras. Brincando, comentei que estava sentada junto a dois originais de Bach. Responderam-me que não eram originais, mas reproduções exclusivas. O dono da casa tinha sido o responsável da restauração de todo o arquivo de Johann Sebastian Bach. E contou que o Thomaskantor tinha de produzir pelo menos uma cantata por semana, a um ritmo tal que o levou a criar em casa uma autêntica linha de montagem: um dos filhos riscava as pautas na folha, o Carl Philipp Emanuel compunha as melodias, e no fim o pai dava o seu toque de génio ao conjunto. Nas folhas que ele tratara notava-se bem o apagado e o recomposto. E notava-se também a falta de dinheiro: se um tinteiro caía sobre a folha, cortavam a mancha, emendavam com um bocado de papel e cola de farinha, e continuavam.

Não sei se é verdade. Mas gostei da imagem de uma linha de montagem familiar. E gostei do brilhozinho nos olhos de quem contava, e das histórias que fazia nascer das folhas que tratou.


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