27 junho 2017

os cristãos alemães tiveram uma ideia incrível para mote do seu encontro nacional este ano (sim, parece um clickbait, mas podem crer que é mesmo incrível)





A torre do sino junto à Igreja da Memória está em obras, e o andaime foi coberto com uma tela na qual inscreveram variações de uma citação do livro do Génesis: "tu vês-me":
Tu vês-me / vês-me? / é a mim que vês.

Essa frase foi o lema do Encontro de Cristãos deste ano - quando se comemora o quinto centenário da Reforma - e foi dita por Agar, mãe de Ismael.


A organização explica a escolha desta forma (e previno que o Speedy Gonzalez meteu a velocidade de cruzeiro):

Ser visto, ser tomado em consideração. Este anseio é importante, e para isso enviamos imagens de nós próprios para todo o mundo, por facebook e whatsapp. (...) Ver o outro está na base da relação, não apenas com Deus mas nas interacções com as pessoas. A dignidade humana como criação divina funda-se nesse ser visto por Deus. A história de Agar, da qual retiramos o lema deste encontro, é retomada tanto no Corão como no Novo Testamento. Para lá do contexto bíblico, a frase "tu vês-me" também serve nos nossos dias para exprimir reconhecimento, apreço e atenção pelo outro. (...)
Queremos estar muito atentos neste encontro: atentos às pessoas que não costumam ser vistas, numa cidade em que ricos e pobres estão separados por enorme distância; atentos àqueles que não acreditam em Deus, ou acreditam de forma diferente, aqui no Leste da Alemanha e numa cidade onde há tantas diferenças culturais, religiosas e filosóficas; atentos a uma Igreja que muda, porque tem de mudar
.

Mas vamos à história de Agar, nos capítulos 16, 17 e 21 do livro do Génesis.
Sara, a mulher de Abraão, que era estéril, sugeriu ao marido que engravidasse a escrava dela, a egípcia Agar, dizendo que criaria o filho como se fosse seu. Uma vez grávida, Agar começou a tratar Sara com desprezo. A situação entre as duas mulheres complicou-se de tal modo que Agar fugiu para o deserto, onde um anjo lhe deu ordem para voltar para casa, assegurando-lhe que ela daria à luz um filho a quem poria o nome de Ismael, e prometendo-lhe que multiplicaria a sua descendência até a tornar incontável. Mas também lhe revelou que o filho seria indomável, que estaria contra todos e todos estariam contra ele.
Agar perguntou "será que vi Aquele que me vê?" e nomeou o Deus que lhe falava: "tu és um Deus que me vê."
Voltou para a casa dos amos e deu à luz o filho, a quem Abraão deu o nome Ismael.
Anos depois, Deus fez com Abraão uma aliança, prometendo que dele nasceria o filho que daria origem a um povo. Também Ismael teria inúmera descendência, mas o povo escolhido seria o descendente de Isaac.
Sara engravidou e deu à luz Isaac. Na festa de desmame de Isaac exigiu de Abraão que expulsasse Agar e Ismael, para que este não tivesse parte na herança de Isaac. Abraão ficou muito chocado, mas Deus disse-lhe que obedecesse a Sara, e prometeu que protegeria Ismael e faria da sua descendência uma grande nação.

O que estas passagens do Génesis nos mostram é o nascimento simbólico do povo árabe, a partir de uma situação de profundo conflito e invejas familiares. Caso para dizer: estava escrito.

Dois detalhes:
- Na narrativa bíblica, que corresponde à perspectiva hebraica, Deus está atento aos árabes e ao destino desse povo.
- A grande festa dos cristãos alemães deste ano trouxe para o centro das atenções esse cuidado do Deus da Bíblia em relação aos árabes e por extensão a todos os povos que não são o "escolhido".












1 comentário:

Petrus Monte Real disse...

Surpreendido e maravilhado: a religião não faz mal a ninguém se, como deveria acontecer, o ser humano a utilizasse apenas para elevar o espírito e nunca, de forma alguma, para exercício do poder.
Muito grato, como sempre.