01 julho 2017

se alguém me inventasse isto, isso é que era!

Um dia destes saí bem cedinho com o Fox. Era para ser um passeio curto, mas ele trotou até ao lago e eu fui atrás. Começou a chover com desespero, e dei comigo a olhar para as ilhas de nenúfares tranquilamente pousadas na água agitada de bátegas - e sem câmara para filmar. Voltei a casa, vesti roupa seca, e saí de novo para a chuva a toda a velocidade, para ir à minha vida.

À minha frente, numa ponte que se erguia em curva e desaparecia na névoa densa e cinzenta, um homem avançava debaixo de um guarda-chuva. Enquanto andava, adejava a mão livre ao som de uma música dentro de si. Parecia "The Man I Love" da Pina Bausch, mas com uma mão só. Só que eu estava com pressa e não quis parar para revolver o fundo da mochila até encontrar a câmara. Vou passar o resto da vida com pena de não ter filmado aquela cena.

Ainda não eram nove da manhã, e já tinha perdido duas oportunidades de gravar a beleza do momento. Era preciso inventar uns óculos com câmara incorporada, eu punha-os e ia por aí, pensava "isto!" e os óculos "click!", pensava "aquilo!" e os óculos "zoom e click!", pensava "esta cena!" e os óculos "bzzzzzzzzzz". Na realidade, já existem óculos com câmara incorporada, mas ainda era preciso inventar-lhes uma telepatia para os meus olhos.

(Suspeito que hoje acordei Professor Pardal.)




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