10 novembro 2017

a Gestapo nossa de cada dia nos dai hoje...

A propósito de uma aluna que fotografou uma lagarta na refeição que lhe serviram na escola, que foi suspensa da escola por ter tirado lá uma fotografia (algo que o Estatuto do Aluno não permite), alguém comparou a direcção daquela escola com a Gestapo.

Para ver se nos entendemos, vou contar uma história horrorosa. Já a contei aqui, mas pelos vistos ainda há quem não tenha entendido.

Uma sobrevivente do Holocausto contou-me que viu com os seus próprios olhos, no pátio do prédio berlinense onde vivia, uma família de judeus a ser metida à força num camião para deportação. Durante aqueles momentos de incrível tensão - as ordens berradas dos Gestapos, a aflição da família, os gritos do mais pequenino, o pai e alguns filhos já dentro, e a mãe com a criança ao colo ainda a resistir - um dos agentes da Gestapo agarrou o bebé pelos pés e bateu-lhe a cabeça com toda a força contra o camião. O bebé parou de chorar - estava morto.

Podíamos combinar o seguinte: quando uma direcção de uma escola fizer algo como agarrar num bebé pelos pés e bater a sua cabeça contra um camião para o matar, podem chamar-lhe Gestapo. Não é que seja uma designação muito correcta, mas pode aceitar-se, dadas as circunstâncias.
Enquanto não fizer nada parecido com isso, é apenas bruta, prepotente, cega, autoritária, o que entenderem por bem chamar-lhe.


A língua portuguesa é muito rica em adjectivos, não é preciso recorrer a palavras estrangeiras. Especialmente quando não se conhece bem o significado delas, e se corre o risco de o alterar por nos habituarmos todos ao mau uso.


3 comentários:

Petrus Monte Real disse...

Concordo absolutamente!
A mensagem é extraordinária!
Creio que as instituições ligadas à Educação
não estão à altura das exigências actuais:
pensam mais em autodefesa,
através de regulamentos burocráticos
e antiquados, do que no bem-estar
e desenvolvimento geral do aluno!

Filipa disse...

É um perigo actual. Como tudo pode significar qualquer coisa, nada significa nada.

O outro dia, li a conversa que socialismo e e nazismo eram a mesma coisa.

Cândido M. Varela de Freitas disse...

Este caso é interessante para uma reflexão.
Não tendo todos os dados, penso todavia que reconstituí o episódio.
Os alunos da André Soares, como a esmagadora maioria dos alunos de todas as escolas, não gostam da comida da cantina. Provavelmente já protestaram e as coisas não mudaram (é muito comum).
Ao ver a lagarta na sopa, a aluna não resistiu e fotografou (ou fez um filme?) o insólito incidente. Em meu entender, fez bem. Mesmo que isso seja proibido pelo estatuto do aluno, documentar a falha era importante para, junto dos responsáveis, protestar uma vez mais.
Ao disseminar o filme via Youtube a aluna fez mal porque ultrapassou o que era razoável - ter um elemento de prova - para dar a conhecer, fora da escola, o que acontecera (por muito bizarro que fosse).
Assim sendo, a escola não pode deixar de agir. Justifica-se o processo disciplinar? Eu creio que sim, tendo em conta todos os atenuantes possíveis.
Não se trata de autoritarismo (invocar a Gestapo, "bon Dieu!") mas de mostrar que a instituição tem regras e que elas devem ser cumpridas.
Agora: se eu fosse responsável pela escola decidiria pelo processo disciplinar? Não sei. Depende de muita coisa, sobretudo do passado da aluna mas também do ambiente global da instituição.