02 dezembro 2017

a "bomba" no mercado de Natal de Potsdam





Ontem, em Potsdam, descobriram uma bomba num pacote enviado pelo correio a uma farmácia localizada na área do mercado de Natal. O mercado foi encerrado imediatamente - e em todos os mercados de Natal do país foi reforçada a presença da polícia.

Hoje informaram que era uma bomba a fingir: tinha um pó branco que se supõe ser gesso, cabos eléctricos e pregos, mas não tinha detonador.

É onde estamos neste momento: para alarmar um país inteiro, basta um tarado enviar pelo correio um pacote com cabos, pregos e um pó branco.

O incidente lembrou-me algo que aconteceu nos anos oitenta na minha faculdade. Houve uma época de avaliação que correu um bocado mal, porque antes de cada exame alguém fazia um telefonema anónimo dizendo que havia uma bomba no edifício. Aconteceu-me duas ou três vezes: chegava à faculdade e não nos deixavam entrar, ou então já estávamos lá dentro e tínhamos de sair. Duma das vezes, o exame até já tinha começado. Até que um dia, quando estavam a distribuir as folhas do exame, notei que os professores começaram a falar uns com os outros, muito agitados. Às tantas ouvi o catedrático a recusar terminantemente a proposta que lhe faziam. Fizemos o exame, não rebentou nenhuma bomba, e - tanto quanto me lembro - nunca mais nenhum exame foi adiado.

Não queria estar no lugar daquele catedrático, obrigado a tomar uma decisão que podia ter consequências graves na vida de centenas de alunos. Tomou a decisão de não se sujeitar ao jogo do medo, e ganhou o desafio. Ganhámos todos, afinal.

Mesmo assim, não queria estar na pele dele - nem da dos políticos e das forças de segurança destes nossos dias de medo do terrorismo.

Pela minha parte, tento evitar a lógica do medo. Continuarei a ir aos mercados de Natal, e a viver a vida normalmente. Nem pensar em dar aos terroristas, e aos malucos, o prazer de me verem mudar a minha vida só por medo do que eles me possam fazer.


ADENDA (3.12.2017)
Os jornais informam hoje que o pacote tinha realmente uma bomba, e que se trata de chantagem no valor de milhões contra a DHL. A polícia afasta a possibilidade de ser um acto de terrorismo contra o mercado de Natal de Potsdam.
Este tipo de criminalidade não é novo na Alemanha. Por exemplo, o caso  "Dagobert" ("Tio Patinhas") foi famoso: um homem fez explodir várias bombas em lojas, para extorquir dinheiro às empresas. Os seus golpes eram de tal modo criativos que a polícia precisou de 6 anos para o conseguir capturar - e, curiosamente, devido ao seu espírito inventivo e ao burlesco das perseguições, o criminoso conquistou alguma simpatia do público.

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