14 dezembro 2017

o direito ao sarampo

Da newsletter do Spiegel, hoje:

"Para mim, um dos maiores enigmas deste tempo é o de pessoas inteligentes que se recusam a vacinar os filhos. Sangrar doentes saiu de moda por algum motivo, e o ferreiro já não trabalha como dentista há algum tempo. Mas é justamente nos bairros urbanos cujos moradores se têm em conta de muito progressistas que se espalhou uma recusa estranhamente esotérica de vacinar as crianças. (...) O pediatra Herrmann Josef Kahl apresenta uma proposta que me parece sensata: "quem quiser frequentar uma instituição estatal de ensino - como creche ou escola - tem de ter as vacinas completas".
Nesse caso, o direito humano de apanhar sarampo passa a existir apenas nas escolas privadas."

Em entrevista, o pediatra mencionado conta que perde imenso tempo a explicar aos pais a necessidade das vacinas, e raramente os consegue convencer. Sei de outra médica, mais pragmática, que já não perde tempo com essas discussões estéreis. Limita-se a dizer aos pais: "não precisam de vacinar todos os vossos filhos - vacinem apenas aqueles que não querem perder".

Mas o discurso da liberdade de escolha vai longe e encontra terreno fértil entre os oportunistas que preferem poupar os seus filhos, contando com a alta taxa de vacinação na sociedade que garante a segurança de todos. Às vezes dá-me vontade de curto-circuitar a lógica destes pais, enviando toda a família para duas semanas de férias gratuitas numa ilha onde todas essas doenças existam.
(Não me levem a sério, é só uma provocação.)

A proposta deste pediatra, no sentido de tornar as vacinas obrigatórias para quem frequenta os estabelecimentos de ensino público, pode ter uma consequência muito interessante: como muitas escolas privadas seguirão com certeza a mesma regra (porque todos sabem que a única maneira de conter essas doenças é ter uma população vacinada a quase 100%), acabará por haver escolas privadas frequentadas apenas por não vacinados. Ou seja: as crianças passam o dia num ambiente semelhante ao da tal ilha que sugeri como provocação. Com a diferença de que ninguém é obrigado a ir para lá - cada família pode decidir livremente se a sua criança frequenta uma escola onde todos são vacinados, ou uma escola onde as vacinas não são obrigatórias.

Estou em crer que em meia dúzia de anos as pessoas perdiam todas as dúvidas sobre a importância de vacinar os filhos.


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